A planta original desse apartamento, a duas quadras da Avenida Paulista era originalmente toda compartimentada em áreas de serviço, social e intimo. Seu primeiro morador comprou o imóvel no ano de 1957, ano em que a cidade tinha apenas 2,6 milhões de habitantes e o centro financeiro se deslocava pela primeira vez do centro histórico para uma área planejada. Atualmente, a cidade de São Paulo tem 20 milhões de habitantes porém, o edifício a duas quadras da avenida mais emblemática e movimentada da cidade São Paulo e talvez do Brasil, ainda conserva o charme do modernismo brasileiro.
Com o objetivo de valorizar ao máximo a área social de convívio do apartamento, o arquiteto e designer de produtos Mauricio Arruda remodelou toda a distribuição dos espaços internos, resgatando materiais de revestimento característicos da época de construção do edifício. Com uma área de 150m2, esse apartamento característico dos anos 60 no Brasil, revelou seu potencial de atualizar-se as novas necessidades quando todas as paredes foram derrubadas e apenas um pilar central manteve-se no centro da área social.
A principal mudança em planta, alem da quebra de muitas paredes foi o reposicionamento da área da cozinha para onde originalmente se encontrava um dos quartos do apartamento na planta original. Alem disso os dois banheiros que serviam aos quartos foram transformados no banheiro da suíte principal e o local onde encontrava-se a cozinha transformou-se em quarto de hospedes. O antigo banheiro de serviço foi ampliado para atender tanto aos visitantes como aos hospedes. A área de serviço ocupa o local onde originalmente ficava o dormitório de empregados.
Muitos revestimentos usados em pisos, bancadas e paredes remetem a ao período em que o prédio foi construído, agora utilizados dentro de um contexto mais contemporâneo, como por exemplo, os piso de granilite dos banheiros e lavanderia. Alem disso, alguns materiais originais foram reutilizados no novo projeto, como por exemplo, os azulejos verdes usados nas paredes do chuveiro, as maçanetas de vidro das portas e as arandelas que ficam na parede da suíte principal.
O piso de madeira maciça sofreu uma tingimento na cor preta para que os inúmeros complementos feitos entre os ambientes nos locais onde existiam as paredes não comprometesses a unidade de todo o espaço. Esse piso combinado com as paredes totalmente brancas criam um espaço neutro onde o mobiliário, objetos, obras de arte e protótipos de móveis podem destacar-se.
Junto da porta de entrada, os móveis da José Collection anunciam o estilo hi-lo brasileiro do morador. “Reformei esse apartamento para que funcionasse como um laboratório das idéias que me atormentam. Ele é o reflexo do meu estado de espírito, das minhas memórias, do meu olhar sobre as coisas, daquilo que me chama atenção no mundo.”
No living, banhado de luz natural filtrada pela copa das árvores plantadas na ocasião da construção do edifício, destacam-se as almofadas com tecidos da marca brasileira FAAUNA no sofá MICASA e a luminária George Nelson. As poltronas e as mesas de centro, assim como muitos outros móveis e objetos fazem parte da coleção particular do morador, acostumado a garimpar peças em lojas de mobiliário vintage brasileiro das décadas de 50, 60 e 70. Nas paredes do living além do mapa do Brasil, que revela uma paixão do arquiteto pelo seu país, fotos de Felipe Morozini, Marcel Gauteroth, TATOO e ilustração de XXX.
Na sala de jantar a mesa HOUSE OF CARDS, desenhado por Mauricio Arruda, convive em perfeita harmonia com as cadeiras verdes dobráveis AIR, Tom Dixon. Na parede, mais obras de artistas brasileiros como SO VENDO A VISTA, Marepe, Barsotti e Ernesto Neto, além do tecido PANTON trazido de Berlim e a foto de infância ao lado do irmão.
No sala de tv, uma porta de correr possibilita o isolamento do espaço para maior conforto dos eventuais hospedes quando o sofá Florence Knoll funciona com cama. Nesse espaço a foto de ROSA dialoga com as gravuras do grande ilustrador popular brasileiro XXX. A mesa de centro em jacarandá é uma peça original do mestre do mobiliário brasileiro Sergio Rodrigues. A poltrona branca de ferro aramado de autor desconhecido é uma peça original da década de 60 fabricada no Brasil para varandas e piscinas.
Para iluminar o banheiro principal Mauricio instalou um letreiro da companhia aérea PAN AM comprado num depósito de letreiros na periferia da cidade. Em 2007, uma lei municipal intitulada “ Cidade Limpa” obrigou a retirada de todos os letreiros com mais de 1m2 das fachadas comerciais. “Com a retirada de letreiros e outdoors muitas fachadas de edifícios com valor arquitetônico relevante antes cobertas por publicidade voltaram a ser apreciadas pela população. A inspiração para meu trabalho vem muito da rua, das pessoas que trabalham e circulam nela. Gosto de observar os camelos, os catadores de lixo, as pessoas no metro, as lojas populares, etc. O brasileiro é um povo bem humorado, sabe improvisar, é simples, colorido e diverso. Busco essas qualidades no meu trabalho.